Movimento Sindical em análise

Rearranjo de forças faz surgirem novas entidades. CUT e Força cada vez mais próximas

No segundo mandato do ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, o movimento sindical atravessa fase de transição, marcada por indefinições. Entre as centrais sindicais ocorre um rearranjo de forças, cujo sinal mais evidente é o surgimento de novas organizações. A reportagem é de Roldão Arruda e está publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 1-05-2007.

Deve ser lançada em julho a União Geral dos Trabalhadores (UGT), fusão de três entidades menores - Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), Social Democracia Sindical (SDS) e Central Autônoma dos Trabalhadores (CAT). Também integrará essa nova organização uma significativa dissidência da Força Sindical, hoje a segunda maior central.

Antes disso, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior delas, também tinha enfrentado dissidências. De uma delas resultou a Coordenação Nacional de Lutas (Comlutas), próxima do PSTU; e de outra, a Intersindical, que ainda não se desligou oficialmente da CUT, mas está em vias de fazê-lo.

CUT e Força exibem sinais de aproximação. É o que observa a professora e pesquisadora Andréia Galvão, do Departamento de Ciência Política da Unicamp. “Há uma atenuação das diferenças entre as duas centrais”, avalia.

Desde sua origem, no governo de Fernando Collor, a Força sempre esteve mais próxima do governo, enquanto a CUT, ligada ao PT, situava-se na oposição. Com a ascensão de Lula, que ajudou a fundar o PT e a CUT, as coisas se modificaram: na antiga central oposicionista o que se nota hoje são dificuldades para manter sua independência, segundo Andréia Galvão. “Muitos militantes cutistas estiveram ou estão no governo. Isso tem provocado divisões internas acentuadas entre os que defendem essa proximidade e os que a condenam.”

A aproximação aparece, por exemplo, com a indicação de Luiz Antonio de Medeiros, ex-presidente da Força, para cargo no Ministério do Trabalho, quando dirigido por Luiz Marinho, ex-presidente da CUT.

O cientista político Marco Aurélio Santana, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também observa uma tentativa de aproximação entre CUT e Força. “Conjunturalmente, elas já experimentaram momentos de aproximação no passado. Agora, como todas as entidades enfrentam problemas, tentam juntar esforços mesmo em áreas onde antes não conseguiam.” Os problemas aos quais Santana se refere estão relacionados a mudanças políticas, econômicas e sociais ocorridas nos 90 - da reorganização das empresas, com o enxugamento de empregos, à derrocada do socialismo como paradigma. Isso resultou no esvaziamento dos sindicatos.

“Quando Lula assumiu, em 2003, o movimento sindical estava em frangalhos. Tinha perdido a pujança dos anos 80”, recorda. Hoje, segundo o cientista político, os sindicatos repensam suas práticas diante da nova realidade. “Há sinais de que podem sair da crise, com mudanças na organização, inclusão de novas demandas, reforço nas políticas culturais, atração de setores da juventude, fusões de sindicatos”, diz.

É um momento de impasse, acredita Santana. “Que projeto vai sair disso, um sindicato mais cidadão e menos classista? Essa perspectiva aparece no centro da polêmica”, analisa. “Há setores que acham que isso leva à perda da perspectiva de classe. Em lugar de querer transformar a sociedade, agora querem reformar o capitalismo.”

O sociólogo Clemente Gans Lúcio, diretor-técnico do Dieese, mais tradicional assessoria sindical do País, também acredita que o sindicalismo enfrenta transição. “A eleição de Lula aumentou a responsabilidade política e social do movimento sindical frente aos anseios da sociedade. Hoje o principal desafio é o de ser mais propositivo”, acredita Lúcio.

Na visão dele, o governo tem chamados os diferentes atores da cena política, como trabalhadores e empresários, para negociar questões mais amplas - a exemplo de uma agenda para o desenvolvimento.

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