ARTIGO: Democracia tem limite?

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ARTIGO: Democracia tem limite?
Por Maria Aparecida Correia*

Mais do que aparência, a democracia tem que ser a essência de um processo de transformação social

Para os (as) brasileiros (as) a democracia ganhou relevância fundamental após anos de ditadura militar, a ponto de se colocar como um valor universal para a quase totalidade das linhas de pensamento da esquerda brasileira. Pensar em democracia em uma sociedade profundamente marcada pela concentração de renda e pela desigualdade social pode parecer utópico, afinal a idéia moderna e liberal de democracia remonta à revolução francesa e a um de seus principais ideais: a igualdade. No entanto, podemos também pensar a democracia inserida em uma proposta socialista e igualitária, pois não existe incompatibilidade entre democracia e socialismo, entre democracia e distribuição de renda, entre democracia e justiça social, entre democracia e hegemonia.

Grande parte do movimento da esquerda brasileiro optou pela transformação social e pela busca da igualdade pela via eleitoral, o que nos leva a refletir sobre as possibilidades de transformação por dentro do sistema. Recusar a luta armada não significa compactuar com o capital, pelo contrário, significa denunciar a todo momento as conseqüências perversas que este sistema traz à humanidade apropriando-se dos espaços de discussão democrática.

A democracia socialista diferente da liberal não se transforma em discurso político sem aderência à realidade ou em palavras bonitas na boca de pretensos líderes. Ela, mais do que a aparência tem que ser a essência de um projeto de transformação social. Também não pode ser um instrumento político utilizado apenas quando favorece o meu grupo ou quando não coloca em risco meu poder. Para que ela se constitua de fato como um valor e como um método é preciso praticá-la e estimulá-la, fazer com que os(as) participantes de um processo de discussão se sintam parte de um coletivo.

O sistema democrático tem vários mecanismos, dentre eles os sindicatos, e a possibilidade de expressarmos as contradições do sistema propondo alternativas para a sociedade com valores que se chocam frontalmente com os valores do capitalismo. Atingir a consciência do(a) trabalhador(a) tirando-o(a) da alienação do trabalho tem se constituído em tarefa árdua nas últimas décadas. Nesta missão, nós sindicalistas temos de exercitar a democracia na reflexão, na discussão, na organização e no encaminhamento da luta dos(as) bancários(as) e da classe trabalhadora.

Não se dissocia a reflexão da luta prática, pois como direção não podemos ser espontaneístas e proporcionar ao capital derrotas que causariam um refluxo em nossa organização.

O sindicato também não pode perder o norte da unidade entre as lutas imediatas com os objetivos históricos dos(as) trabalhadores(as), pois caso contrário, também pode se transformar em um sindicalismo de resultados, que resolve questões imediatas mas que não se coloca como parte de um projeto alternativo de sociedade.

O limite da democracia não existe, pois mesmo no socialismo existirão conflitos de idéias que serão debatidos. O limite existe para o sectarismo, para a censura, para a exclusão, para o centralismo, para o autoritarismo. Valorizar os espaços democráticos de discussão deve ser nossa prioridade na construção de uma campanha salarial vitoriosa e na denúncia da exploração capitalista. Em nossa história, a categoria bancária deu exemplos de participação e luta, e neste ano novamente as conferências estaduais e nacional demonstrarão seu potencial de exercício da prática democrática dos (as) trabalhadores(as) bancários(as) na discussão, organização e luta da classe trabalhadora.

* Maria Aparecida Correia, a Cidinha, é diretora da Fetec-CUT São Paulo

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