Estranha Moral
Mais um breve texto de meu professor Serjão.
Estranha moral
Estranha moral
Sérgio Braga Vilas Boas
Não há sombra de dúvidas acerca da deficiência moral que permeia o capitalismo. Não é o caso de ser imoral. Imoral tem noção de moral, mas é contrário a ela. O capitalismo é amoral, age como se fosse uma pedra, não tem a menor noção do que venha a ser.
Até que Smith, Ricardo, Marshall e Keynes além de Weber, tentaram criar instrumentos e fizeram alertas, como muito bem coloca o ex-ministro Antônio Delfim Neto: “vocês têm liberdade, mas não podem matar a sua mãe”. A busca do lucro tem limites. Não pode ser a qualquer custo. E, com certeza o “mercado”, entidade virtual que foi eleita ser vivo e operante, jamais desenvolveu instrumentos eficazes para evitar os rejeitos do seu próprio mecanismo de funcionamento. Sempre os jogou para História para que ela os resolvesse por gravidade. Nos momentos em que qualquer coisa parecida com um código moral foi posto em prática, principalmente para por freios à trajetória cancerígena do capital financeiro, se deu através de forte intervenção político-econô mica do Estado.
O pior de tudo isso, é que sua superestrutura ideológica, além de servir para justificar a estrutura político-jurídica e a econômica, determina comportamentos às pessoas e às organizações. Hoje, indivíduos e coletividades se comportam de forma diferente da que se comportavam há cerca de 40 anos atrás. Não somente porque estamos no ano de 2008 do século 21 e existe uma série de questões outras além de tempo e espacialidade que influenciam e modificam comportamentos. Mas o fato é que o componente ideológico modifica culturas, e não estou dizendo aqui nada que alguém não conheça.
Se fizermos um comparativo entre o comportamento dos indivíduos hoje, na era do estupro da mais valia, e do darwinismo social, e o da era Keynesiana, identificaremos diferenças que atiram na lata do lixo qualquer possibilidade de se convergir para um contrato social lúcido. Mais ainda o comportamento das organizações. Cabe aqui uma dúvida atroz: terá sido comportamento dos indivíduos que modificou o das organizações ou vice-versa? O fato é que indivíduos e organizações agem com se não houvesse qualquer conhecimento de qualquer elemento moral. São vítimas recíprocas.
O reflexo dessa situação indesejável é pecaminoso no mundo do trabalho. Me custa acreditar como se chegou tão facilmente à conclusão de que a relação que existe entre moral e eficiência é inversa. Daí a tese reinante de que política e economia são algo como água e óleo, não se misturam, e que a dinâmica da economia e o seu tecnicismo podem imprimir ao mundo uma racionalidade que o levará ao nirvana. Pura construção ideológica que interessa sobremaneira à pirataria. Tenho dito sistematicamente que estamos participando de uma conspiração contra nós mesmos. Até onde isso nos levará só o futuro poderá dizer.
*Secretário de finanças da Contraf-Cut.
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