Tese da Articulação ao 21o. CNFBB - 7a. parte
Projeto BB 2.0, Correspondentes Bancários e segregação da população
A implantação do correspondente bancário, se constitui na retrograda formula encontrada pelos ‘profissionais’ da administração, para ‘reduzir custos’ operacionais no atendimento a população de ‘baixa renda’. Ou seja, vende-se a idéia de que ‘não é possível atender as demandas de grande parte da população se não for a baixo custo operacional’.
Em contraponto vemos vários setores da economia, sobretudo os bancos, atingirem cifras bilionárias de lucro, às custas, principalmente, de negócios com o segmento dito ‘de baixa renda’, com a cobrança de tarifas e taxas de juros escorchantes.
Durante os anos 90, o jornalista Zuenir Ventura aplicou o termo “Apartheid Social” para designar situações de segregação com base na condição sócio-econômica dos cidadãos. Este termo também foi aplicado, na mesma década, para designar a segregação do atendimento bancário nas chamadas “filas de Cliente Cheque Especial” e nas filas “Clientes Comuns”. Contudo, com o tempo, o cheque especial deixou de ser um produto que ostentava status.
Nos anos 2000, com a mencionada mudança da política de governo em relação aos trabalhadores de ‘baixa renda’, os bancos rapidamente passaram a identificar o potencial deste ‘novo nicho inexplorado de mercado’. Contudo, para isso, ampliou-se a segregação em ‘tipos’ de clientes.
Para atender os clientes endinheirados, os bancos passaram, então, a criar espaços distintos de atendimento. A revelia do regime republicano que vigora no país há mais de um século, os bancos criavam, a seu critério, sob total omissão do Estado, distintos ‘estamentos sociais’ entre seus clientes. A ‘naturalidade’ com que a sociedade aceita a existência de cidadãos de primeira e segunda classe favoreceu, e ainda favorece, esta postura dos bancos.
Disfarçada de ‘Segmentação’, a ‘Segregação’ social dos clientes se aprofundou com a criação, pelos bancos, de espaços e modelos distintos de atendimento bancário. Criaram-se agências: Prime (Bradesco), Personalitè (Itaú), Uniclass (Unibanco), Premier (HSBC), Van Gogh (Real) e Estilo (Banco do Brasil) para clientes de ‘alta renda’.
Por outro lado, disseminou-se a figura do correspondente bancário para o atendimento a população de ‘baixa renda’: Banco Popular do Brasil, Lotéricas, Supermercados, Correios invariavelmente se constituíram a alternativa de ‘bancarização’ deste segmento da população.
Se por um lado, é a parcela ‘mais pobre’ da população que recebe o pior tipo de atendimento bancário, também é desta mesma parcela que sai grande parte dos trabalhadores terceirizados. Desta forma a segregação dos clientes também leva os bancos a segregar os trabalhadores, é o que verificamos ao comparar os bancários dos segmentos de Alta Renda aos terceirizados e Correspondentes Bancários.
Com o projeto BB 2.0, vemos a clara intenção da direção do BB de aprofundar essa segmentação. O BB 1.0, implantado em 2007, naufragou em pouco tempo. O diagnóstico que já era ruim, piorou com o excesso de restrições orçamentárias para ativação das carteiras e pagamento das substituições, pois uma das premissas era “não haver incremento de custos e de dotação” apesar das sinalizações claras de limitação de pessoal e espaço físico.
O tratamento agora será o seguinte:
- Para os clientes desencarteirados que possuem potencial maior de realização de negócios, que compõem o grupo Comercial, o atendimento será na agência, através da oferta de produtos por meio de canais alternativos. Neste grupo, haverá dedicação de um funcionário exclusivo, com estratégia voltada para o foco comercial.
- Atendimento Reativo: Para os clientes não encarteirados - segmentos PJ E, PF D e PF E, que possuem potencial de negócios menor, o atendimento será reativo, em ambiente compartilhado.
Segundo os documentos do projeto “Essa ação visa não só proporcionar melhor satisfação para os clientes, mas também diminuir a sobrecarga de trabalho da rede como um todo.” Aí esta a nova dificuldade de atuação e mobilização do movimento sindical, por um lado o BB, como em 2007, promove uma série de pessoas em comissões e contrata milhares de novos trabalhadores desengajados da construção de um processo coletivo, por outro explora a população e amplia a segregação.
As regiões e cidades mais carentes/pobres do país já ficaram por último no processo de implantação, que diferente de 2007, será implantado em “ondas”, dificultando uma ação sinérgica de todos os sindicatos no tratamento dos problemas de transferência, descomissionamentos, etc... Certamente estes últimos, regiões Norte e Nordeste, enfrentarão uma carência de oportunidades e seus sindicatos podem ficar brigando por realocação de pessoas descomissionadas, em espaços geográficos imensos, ao contrário dos grandes centos onde a mobilidade é mais “aceitável” e as oportunidades são maiores, naturalmente maiores em função da concentração de renda e empregos melhores.
Então voltamos ao desafio inicial de buscar que o BB seja um verdadeiro banco público e não um banco exclusivamente comercial que favorece a concentração de renda e é pouco ou nada voltado para o desenvolvimento socioeconômico da população brasileira, com um discurso de responsabilidade socioambiental enviesado.
Outro desafio, é o de buscar a humanização nas relações de trabalho e a ética nas relações comercial com os ‘clientes”.
“Ao desafiar as grandes conquistas civilizadoras do século 20, as "novas" relações de trabalho destróem a solidariedade, invadem o espaço privado, solapam relações com amigos e família e impõem uma ética que valoriza a submissão.”
Danièle Linhart – 2006
Muitos trabalhadores ficam inicialmente tão seduzidos pelos comissionamentos que também esquecem que são, eles próprios, pessoas. E aí, para satisfazer o cliente e o patrão, os bancários são levados a adotar comportamentos onde se mesclam mentira, às vezes pressões (vendas casadas) e conselhos contra-indicados (quando teimam em oferecer serviços e produtos evidentemente inadequados).
Cercado numa teia de pressões tailorianas invisíveis, com objetivos muito precisos, a serem realizados durante um número obrigatório de chamadas por hora ou por dia, e que se desenrolam segundo um roteiro prescrito os bancários eles esquecem que lidam com pessoas, e não somente com metas de venda o bancário acorda, mas ainda precisa de encorajamento para lutar, aí entra o nosso papel, acordá-los e instrumentalizá-lo para lutar ao nosso lado.
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