Pauta diversificada faz parte da estratégia dos bancários para conquistar mais

Lembro quando passei no concurso do Banco do Brasil e fui convocado para tomar posse em dezembro de 2001. A alcunha de todo recém chegado diante dos mais veteranos era da lúdica expressão "genérico". Hoje é raro escutar isto. Por que?

A estratégia dos bancários da CUT foi organizar campanhas nacionais unificando pauta, calendário e negociação de mais de 100 sindicatos, 10 federações e 4 centrais sindicais. Com essa abrangente discussão de trabalhadores e com plural matiz ideológica a forma de se chegar a minuta, ou seja, o conjunto das reivindicações dos bancários, passou a ser uma estrutura ampla e complexa de participação que começa com as deliberações de pauta, concepção e prática em cada sindicato que encaminham delegados e propostas para encontros regionalizados em federações e que culminam em processo avaliativo e deliberativo na Conferência Nacional dos Bancários.

O processo acima citado construiu um pauta nos últimos 10 anos que mudou o cenário de contratação entre o capital financeiro e o trabalho bancário. Deixamos de mobilizar, representar, negociar e contratar apenas para nossas bases sindicais em bases econômicas para ampliar nossa discussão para todos os 480 mil trabalhadores do ramo financeiro em todo o país e em todos os temas que interferem em suas vidas. Para conseguir manter aglutinação de tantas entidades e trabalhadores com idéias e propostas diferentes o método de condução não poderia ser outro a não ser o meio democrático representativo.

Multiplicaram-se propostas não somente econômicas mas temáticas e com tensões evidentes para que estas não fossem decorativas dos documentos de minuta (reivindicações) aos banqueiros. A unidade se fez a partir da complexidade de temas que interferem na vida do trabalhador.

Em igualdade de oportunidades contratamos a licença maternidade de 6 meses e direitos iguais para casais de orientações sexuais diferentes com reflexos em planos de saúde e previdência.

No emprego contratamos aumento de pessoal nos bancos públicos.

Em saúde contratamos políticas de proteção e atenção a LER/DORT e combate ao assédio moral.

Em segurança contratamos programas de assistência a vítimas de assaltos e sequestro, publicidade setorial semestral dos registros de ocorrências criminosas aos bancos e bancários.

A nossa contratação é única e exemplo para o conjunto da classe trabalhadora no Brasil e no Mundo. A Convenção Coletiva de Trabalho - CCT garante direitos de trabalhadores de empresas públicas e privadas em todos país e debate com a sociedade o setor econômico como um todo e não apenas entre os limites de bases sindicais.

Por isso hoje temos mesmo no debate econômico várias alternativas com priorização mediante análise de conjuntura da campanha do ano corrente. O salário é questionado e perseguido seu reajuste pela recomposição da inflação do período da data base dos trabalhadores bancários que é o mês de setembro a referência. Além disso a estratégia de aumento real que significa distribuir renda da mais valia bancária além da inflação.

Também estabelecemos padrão de negociação de outros temas econômicos como PLR, piso salarial e benefícios sociais com efeitos pecuniários a exemplo o auxílio refeição, cesta alimentação, 13a. cesta alimentação, auxílio creche babá, entre outros.

Com a força de mobilização e negociação avançamos em direitos  para todos e também em bancos específicos com aditivos (Acordo Coletivo de Trabalho - ACT)  ao contrato geral (Convenção Coletiva de Trabalho - CCT). Vários direitos que tinham  perda de isonomia no BB ao longo dos anos como licenças, programas, assistências, plano de cargos, previdência, saúde, segurança, igualdade de oportunidades e modelo de remuneração foram recuperados. Hoje a quebra da isonomia se dá pela falta da licença prêmio e de férias de 35 dias após 20 anos de empresa.

Entendo que avançamos muito. Mas muito ainda há para avançar. Não podemos diminuir a intensidade de ações que alcançamos porque isso põe em risco as conquistas dos últimos 10 anos. E mais, devemos ampliar o diálogo social e aumentar a cobrança em relação ao papel do setor econômico financeiro.

Por isso este ano que a conjuntura se apresenta como mais difícil que 2010 é necessário ter estas referências para continuar avançando nas conquistas.

Já sabemos que nenhuma campanha de trabalhadores começa do nada. Somos seres históricos e culturais. Temos que reconhecer onde acertamos ou não. Temos que criticar nosso tempo. E propor com inteligência e percepção de mudança cotidiana na vida do trabalhador para transformar nossa realidade e a de tantos sobre o mundo e seu sistema de produção.

Com algumas referências como as que citei acima, existem muitas mais, celebro nossa participação neste processo histórico. É uma história de luta, de resistência e de conquista. Não é fácil manter estabilidade política entre um conjunto tão plural de trabalhadores e entidades representativas e isso conseguir isto nos anima para o enfrentamento ao setor econômico mais poderoso do nosso país, que é o sistema financeiro.

Não pretendo encerrar esta discussão com este texto, mas fomentar o debate para fortalecer nossa compreensão para 2011.

Não somos genêricos, somos bancários e protagonistas da luta que determina nossos direitos e sentidos de valorizar esta profissão como contribuição para o desenvolvimento nacional com justiça social. Juntos somos mais fortes.

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