Dinheiro parado em conta-corrente vira ganho para as instituições financeiras e diminui toda vez que o juro cai
Bancos perdem R$ 11 bi
Autor(es): VICTOR MARTINS
Correio Braziliense - 22/03/2012
Os bancos deixaram de faturar aproximadamente R$ 11 bilhões nos últimos sete meses em operações de float (quando aplicam os recursos parados em conta-corrente)— o equivalente a 18,55% de todo o lucro do setor em 2011. O número foi obtido com base em um cálculo do Banco Central (BC) apresentado no Relatório de Estabilidade Financeira divulgado ontem. Pelo exercício proposto pela autoridade monetária, para cada 1 ponto percentual de corte nos juros básicos (Selic), R$ 4 bilhões deixariam de ser embolsados pelas instituições nessas operações.
Esse cálculo, porém, não tem impacto no balanço dos bancos. O que as instituições deixam de ganhar nessas operações é compensado pela queda no custo das captações, pelo aumento das operações de crédito e pela elevação de tarifas. "Os bancos ganham cada vez mais com intermediação financeira no Brasil. Mesmo com a redução forte na Selic, não há grandes efeitos nos balanços", garantiu uma fonte do governo. "A rentabilidade do setor é bastante satisfatória", explicou. Além dessas compensações, as instituições estão fortemente protegidas por operações de hedge, espécie de seguro que cobre os riscos com os riscos contra oscilações de mercado.
Tanto é assim que, diz o relatório divulgado pelo BC, mesmo com variações dramáticas da Selic, os bancos manteriam-se solventes e o sistema robusto. O documento apresentou ainda outros resultados de testes de estresse no segmento bancário. Durante todo o segundo semestre do ano passado, a autoridade monetária testou os números do setor frente a um cenário extremo, a exemplo de uma queda do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) de 5%; uma elevação dos juros para 28% ao ano; e uma supervalorização do dólar frente ao real a uma taxa de R$ 3,59. "Na hipótese, testamos o que aconteceria caso o BC e o mercado não tomasse nenhuma medida contra esse cenário e, ainda assim, o sistema bancário teria plena capacidade para funcionar", avaliou Anthero de Moraes Meirelles, diretor de fiscalização do BC.
Segundo Meirelles, a inadimplência, no pior cenário, subiria para 15%, porém, nenhum banco quebraria, apenas parte do sistema ficaria fora das regras. "Não registramos um único caso de insolvência", comemorou.
Os testes revelaram um sistema bem robusto, disse. Meirelles ainda avaliou que a inadimplência atual do sistema deve se estabilizar nos próximos meses e considerou os resultados das medidas macroprudenciais adotadas no último ano como "eloquentes".
Teste extremo
BC testou capacidade dos bancos brasileiros em cenários catastróficos e, ainda assim, eles se mostraram robustos. Lucros em alta com operações de crédito e tarifas são responsáveis pelo poder de fogo do setor financeiro até em incêndio nas taxas de juros e nas estimativas de crescimento
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