Spread’ bancário requer terapia específica

O Globo - 22/03/2012

As taxas básicas de juros no Brasil permanecem altas se comparadas aos padrões internacionais, mas a redução ocorrida nos últimos anos fez com que essa distância diminuísse consideravelmente.

Já os juros cobrados dos tomadores finais de empréstimos não tiveram aproximação semelhante, o que gera uma discussão sobre a razão de o "spread" bancário (diferença entre as taxas de captação e de aplicação dos recursos) ser tão elevado no Brasil.
Em certos segmentos, como nos cheques especiais, as taxas chegam a mais de 10% por mês, quase o dobro da inflação anual.
Os bancos brasileiros têm um grau de eficiência que os equiparam aos dos sistemas financeiros mais avançados no mundo.
São bem menos alavancados (total de operações de financiamento em relação ao patrimônio líquido, definido pelo capital e reservas próprios) que os congêneres no exterior, e, embora haja uma concentração de negócios nos dez maiores, existe uma forte competição entre eles.
Não compõem um cartel.
Parte da explicação para esse "spread" elevado está na longa trajetória de inflação aguda no Brasil.
Na área financeira, a forma encontrada para se conviver com essa situação crítica foram a correção monetária e a garantia de liquidez imediata para as aplicações.
Ainda que, a partir do lançamento do real, a inflação tenha recuado significativamente, sem fugir ao controle, essa característica de liquidez imediata não se alterou, e desse modo não há um perfeito "casamento" entre os prazos de financiamento e as chamadas exibilidades do sistema bancário.
Se, do lado dos financiamentos, não existirem garantias que possibilitem o retorno rápido dos recursos emprestados em caso de falta de pagamento, essas transações só se realizam se tiverem a perspectiva de altíssimo retorno, capaz de compensar o risco da inadimplência.
A economia brasileira enfrenta vários tipos de obstáculos para crescer mais aceleradamente, o que leva as autoridades monetárias a segurar o crédito com rédeas curtas, embora tenham estado mais frouxas ultimamente.
Assim, como mecanismo para inibir a concessão de empréstimos, o percentual de depósitos e recursos captados dos clientes que o sistema bancário tem de transferir compulsoriamente ao Banco Central está também entre os maiores do planeta.
E sobre as operações de crédito realizadas incidem impostos federais.
No fim das contas, o volume de empréstimos é bem inferior ao montante de recursos de clientes que deve ser remunerada pelos bancos.
O "spread" elevado é, então, consequência de todo esse quadro.
Mesmo assim, em face da multiplicação de financiamentos ocorrida nos últimos anos e ao renascimento do mercado de capitais no Brasil, era de se esperar que as diferenças de taxas de captação e aplicação já não fossem tão gritantes.
Brasília pretende, por meio do Banco do Brasil e da Caixa, forçar, pela concorrência, a queda das taxas no mercado.
O alcance da medida será curto, se as causas estruturais da distorção não forem atacadas

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